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Começamos agora a ver os resultados sociais da globalização.

Há poucos anos ocorrerem as primeiras deslocalizações industriais e os países emergentes fizeram o seu aparecimento com a tecnologia ocidental associada à sua mão-de-obra barata.

Em cerca de 15 anos, aproximadamente, os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) tornaram-se grandes fornecedores da Europa e EUA que, até então, detinham o privilégio de produzir e vender. Com os gurus da economia da época a fazerem valer as suas teses, a produção passou a ser concretizada naqueles países, principalmente na China e na Índia, o que fez todo o sentido para os empresários.

De facto o custo da mão-de-obra era muito baixo na China e na Índia (cerca de 200 dl/anuais, salário médio). Hoje as coisas estão um pouco diferentes e pode-se falar que o salário médio nestes países rondará os 2000 dls/ano, para profissionais da produção industrial. Claro que para os trabalhadores rurais os valores serão menos de metade disto.

No entanto, na Europa, os valores médios desses profissionais serão bem mais altos, e podemos considerar que, em Portugal (um dos mais baixos da Europa), rondarão os 15000 dls/ano.

Mas isto não é tudo para fazer a diferença. Na Índia e China terão menores encargos com a SSocial, maiores jornadas de trabalho (cerca de 60 horas semanais), e mais trabalho infantil. Acrescente-se ainda que, na Europa, temos um mês de férias pagas e feriados (dez ou onze dias por ano), ou seja, no Ocidente trabalhamos 11 meses e recebemos 14 (quando não 15), enquanto que os asiáticos trabalham mais de 360 dias/ano. Logo, não há qualquer hipótese de comparação. E poderíamos falar nas situações de dumping mas estes aspectos já referidos chegam para ver as vantagens empresariais de quem se deslocalizou.

E agora, como vai ser na Europa e, talvez, nos EUA? Desemprego, convulsões sociais (Islândia, Grécia, França), instabilidade empresarial e já aí estão os novos gurus – tem de se reduzir os custos do trabalho, anunciam eles. Portanto, esperem pela pancada – redução salarial (a guerra dos profes. não será uma delas?), menores comparticipações nas despesas com a saúde e precarização do emprego. O nivelamento vai ter que ser feito por baixo, infelizmente.

Mas, perguntar-me-ão os companheiros blockistas, a que propósito vem esta conversa? É que, soube ontem, da Índia, vai chegar o Sakshat, o computador portátil apoiado pelo governo indiano, rival do Magalhães, a 10 dls (ou mesmo que sejam 20 dls) a unidade. Quem é que vai querer comprar portáteis a 50 €?
Mais uma machadada na nossa economia produtiva. E isto preocupa-me, principalmente pelos meus descendentes.